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quarta-feira, 15 de maio de 2013

SOBERBA ESCURIDÃO - FÓRUM BAD BOOKS DON'T EXIST POR LADY ENTROPY

"Antes de começar com a crítica, tenho que deixar um aviso à navegação muito grande: sou uma grande fã de fantasia urbana, e defendo com unhas e dentes o direito à existência de séries de romance paranormal, mesmo o Twilight, porque claramente há leitores que gostam, e todos nós temos direito a guilty pleasures. Eu nunca vou criticar alguém pela sua escolha de escrever neste género e acho que Portugal precisa de mais escritores de fantasia urbana\paranormal.
Não tenho problema nenhum que este livro seja sobre temas e tópicos e com elementos muito semelhantes a Twilight ou Hush Hush.
Algumas reviewers que não gostaram do livro (Olá, Ruiba :bye:) acusaram-no de ser uma cópia rasca de Hush, Hush. Pode ser que seja (não sei, não consegui ter coragem suficiente para ler o Hush Hush), mas francamente não me importa em nada. Os Jogos da Fome copiam em muito os temas de Battle Royale, e são histórias totalmente diferentes.

Para abrir, o que gostei no livro: o design. Não sei quem faz o design gráfico da capa e do interior deste livro, mas precisam de lhe dar mais trabalho, tendo em conta as capas horríveis que andam por aí.

Agora falando, então de reviewers e não gostar do livro -- é impossível falar deste livro sem falar do incidente das reviews negativas. Este livro tem uma fanbase quase fanática (composta por, suspeito, as amigas da escritora) que persegue, ataca e insulta qualquer pessoa que ouse dizer mal do livro -- vão ao blog da Ruiva para verem o que quero dizer, ou à analise da Alexandra Rolo no Good Reads. Este comic explica muito bem o que estas reviewers andam a passar devido à critica do livro. Não sei se a autora (que até me parece uma pessoa acessível e simpática) aprova este comportamento das suas fãs, mas, se por um lado, ela nunca teve ataques de Anne Riceite Aguda -- por outro lado está notavelmente ausente das discussões e não tenta sequer interceder a favor do direito das pessoas expressarem as suas opiniões. Não digo que isto seja prova certa que ela anda a mandar as amigas para assediar quem diz mal dela (sobretudo porque este tipo de paladinos literários são como cogumelos - acho que tem a ver com a necessidade que algumas pessoas têm de acreditarem que só gostam de coisas boas, e que se gostam de coisas que outros consideram más, isto é o mesmo que dizer que são estúpidas ou que têm falta de gosto), mas a sua ausência dá-lhe, infelizmente, mau aspecto.
Logo, espero ter muitos ataques devido a esta review.

Porque este livro, em termos de pontuação, merece 1 Estrela. A Ruiba e a Alexandra muito mais generosamente deram-lhe 2 estrelas. Eu, por muito que queira, não posso. 2 significa "It's OK". Este livro não é OK de forma alguma. Não o odiei, não tenho problemas com o tema ou o romance, mas é um livro muito mal feito.

Visto que vou estar na lista de ataque das fangirls da autora, vou explicar os meus problemas com este livro antes que me acusem de ter "inveja", de não ter livros escritos, e de ser uma Twifan de armário. Aliás, desejo todo o sucesso a autores tugas que escrevam neste género -- mas que o façam bem.

Ah, sim, claro -- a review vai ser altamente spoilerifica. Interessados, abstenham-se.

TEMAS:
Este livro é um romance com elementos paranormais -- rapaz misterioso com poderes sobrenaturais que se apaixona pela "rapariga normal", e a sua realidade sobrenatural torna-se uma ameaça para o bem estar da sua amada.
Note-se que este tema, apesar de muito batido, é um dos meus guilty pleasures e adoro-o quando bem feito. 


HISTÓRIA E ESTRUTURA:
Não há forma de dizer isto de forma politicamente correcta: este livro não é um livro - é um first draft que precisava de um editor. Aliás, este livro é perfeito como caso-estudo para editores: tudo que a escritora podia fazer mal, faz - estrutura, estilo de escrita, voz, pontuação, plot, personagens, erros factuais (por favor, não me digam que ela melhorou no livro seguinte, porque esta review é do primeiro livro), neste livro ela não só não consegue criar uma história surpreendente ou interessante, como a estrutura é desequilibrada -- e tem mais plot-holes que um queijo suíço. Se eu, que tenho conhecimentos muito básicos de escrita, tenho vontade de agarrar uma caneta vermelha, fazer correcções a eito e mandar à autora, imaginem os problemas todos que isto tem. E a parte triste? É que a autora tem uma excelente história potencial de loucura e "o que é realidade vs. o que estou a imaginar" que desaproveita.

A protagonista, Carla, um dia vê monstros em casa dela. Apanha um grande susto, e começa a achar que é doida. Vai para a escola, e um dos colegas de escola começa a ter uns ataques (premonição... ooooooh!), vai ao cinema com um amigo, que começa aos gritos com ela que ela é um monstro, sai a correr e é atropelado. A caminho de casa, encontra um rapaz misterioso e lindo chamado Caael (infelizmente para mim, não consegui impedir-me de ler isto como "Kal-El" e por isso sempre que o nome dele era mencionado, ouvia a musica do Superman), com quem vai desenvolvendo uma relação. O resto do livro é à volta do "amo/odeio-te" típico deste livro, onde finalmente se descobre que ele é um anjo caído porque ousou pedir a Deus poder amar\ter sexo (sim, também tive que ler isto duas vezes para ter a certeza que não estava a alucinar) e que está encarregado de manter os demónios da área sob controlo para não paparem gente demais. As amigas dela acabam por ser apanhadas na confusão, são capturadas, o que leva a que a própria Carla seja capturada por uma demónia, e salva pelo Caael numa cena final muito pouco apoteótica. 

Eu costumo dizer que muitos autores portugueses identificam "ser um escritor" com "ter ideias para um livro". Infelizmente, isto não é verdade (ou eu já era escritora à muito tempo) -- ter ideias é o mais importante, mas não saber como escrever é importante e muitas vezes é o suficiente para afundar um livro. E é o que acontece aqui: a autora tem pelo menos a noção que deve começar a acção cedo (no final do primeiro capítulo), mas só depois de uma muito longa apresentação da protagonista e da vida da protagonista que é, obviamente, uma seca. Adicione-se a isto um monte de name dropping de pessoas que a autora conhece e que queria meter no livro.
Depois de se apresentar e falar sobre a sua família ad nauseam, temos a cena inesperada de que ela vê monstros. Isto nunca é explicado e não tem ligação nenhuma com o resto do livro, nunca se resolve ou explica, apenas alerta a protagonista para a existência do sobrenatural (e mais adiante serve como razão para ela adquirir um colar mágico, que, por sua vez, serve para afastar o Caael e introduzir a natureza não-humana dele). Claramente, a autora não sabe o que é a Chekhov's Gun. Na cena final, há menções de uma "ela" que é provavelmente uma "má" maior que vai aparecer no futuro e cheira-me que foi ela quem mandou os monstros, mas o que digo sobre meter elementos inúteis numa história ainda se mantém - se a autora soubesse escrever, sabia também que é uma péssima ideia abrir com um plot secundário que não é resolvido\explicado\utilizado neste livro.
Recentemente vi o filme "The Moth Diaries", que jogava com o tema que eu pensava\esperava que a autora utilizasse, o da potencial loucura da heroína: neste filme, a protagonista, uma aluna de uma escola privada só para raparigas, estava convencida que a nova aluna era uma vampira que estava a matar a melhor amiga dela. Durante grande parte do filme, ficamos sem saber se é verdade (nada nos mostra que há elementos sobrenaturais no filme, a não ser a visão da protagonista) ou se a pobre rapariga, afectada pela morte do pai ainda, está a enlouquecer e sofre de uma ciumite aguda.
Infelizmente, o terror de enlouquecer que a protagonista tem e que explora no primeiro acto, desaparece e mal volta a ser mencionado assim que o Kal-El... digo, Caael, entra em cena. 

E depois o plot implode.

Oh, Meu Deus, os plots holes são a coisa mais épica deste livro -- e só se percebe o quanto no final do livro, quando o plot principal acaba por ser uma versão a esteroides do "self-fulfilling prophecy". Permitam-me explicar.

- O melhor amigo da protagonista (que desempenha um papel igual ao Jacob do Twilight, de bonzão que gosta da heroína mas que não vai ter sorte) tem um ataque e começa a alucinar e a gritar que ela é um monstro, foge e é atropelado. O amigo é internado depois do acidente, continua a alucinar, e sai da história quase completamente (voltando só muito mais tarde para lhe dar um amuleto que é a chave para a heroína descobrir que o namorado é uma criatura sobrenatural). De rastos, a heroína vai para casa, esbarra (literalmente) no Kal-El... er, Caael, disparata com ele, despertando o interesse dele. Explica-lhe também o problema que teve com o amigo. Muito tempo depois, descobre-se a verdade - que as alucinações que o amigo teve foram enviadas pelo Kal--não, Caae--(porra, que se lixe, o Caael agora vai ser Kal-El. Gosto mais). Porque ele não sabia mesmo que o amigo era amigo, só a ouvia queixar-se dele e achava que era alguém que era mau para ela.

Portanto, o amigo alucinou devido aos poderes do Kal-El-- que a protagonista AINDA não tinha conhecido, a quem ainda não tinha contado do amigo e de como a tinha atormentado. Logo, o Kal-El não só não tinha razão para enviar alucinações ao amigo, como nem sabia quem ele era.

Tenho que dizer que não percebo como é que as críticas do livro não mencionaram isto como um dos grandes problemas, porque francamente é o que o atira para a 1 estrela para mim. Um livro sem uma história que funciona é um livro desnecessário.

Podia perder tempo a listar outros momentos que não faziam sentido, outros plotholes (por exemplo, uma das melhores amigas começa a namorar com um dos maus, vira-se contra a protagonista, desaparece de circulação, e depois consegue escapar das garras dos maus e encontrar a protagonista -- só para se descobrir que era tudo uma armadilha, que os maus a deixaram escapar para a levar à protagonista, e ainda que ela estava do lado deles -- desculpem, mas um dos maus era colega de escola, e se a melhor amiga ainda estava sob o poder deles... porque NÃO LHE PERGUNTARAM ONDE A PROTAGONISTA VIVIA!? Porquê perder tanto tempo e tornar os vilões ainda mais burros do que eram só para ter um momento de "traição" emocional?). Mas isto prova que a autora não respeita a história suficientemente para a fazer ter lógica. Não, está pronta a atirar lógica e sentido pela janela apenas para poder inserir momentos emocionais forçados (como a vez em que decidem ir a um bar por razões totalmente burras (viram o namorado da amiga lá uma vez, logo faz todo o sentido ir procurá-lo lá para o encontrar -- quando são colegas de escola e era mais fácil, não sei, perguntar a outros colegas, professores, etc. antes de sequer tentar ir a um bar, acreditando que ele estaria lá -- visto que só o viram lá uma vez) -- apenas porque assim, a heroína vê o amado a agarrar uma gaja boa\vilã e arrastá-la do palco onde ela estava a dançar. E logo, a Carla assume que eles são amantes e que ele nunca gostou mesmo dela -- porque é óbvio, não poderia ser por outra razão. Meu deus, ele pegou-lhe no pulso! E puxou-a para fora do palco! A profundidade emocional! O eroticismo! Isto devia ter bolinha vermelha no canto!

Agora a estrutura é... terrível também. Se bem que começa com a acção forte na cena um, para lá chegar temos que ler montes sobre a família da Carla e sobre a própria Carla o que é aborrecido como tudo. Depois do primeiro acto inserir um tema de possível loucura ignora-o completamente, e o segundo acto torna-se uma massa amorfa, sem evolução, sem conflitos particularmente chocantes. O terceiro acto, se é que posso dizer que há um, aparece de rompante, culminando numa cena final confusa e desinteressante -- onde a protagonista nada mais é que uma vítima passiva dos acontecimentos, com o Kal-El a salvar o dia.

Em suma: a história e a estrutura são falhanços totais, claramente por falta de conhecimentos da autora que não sabe como escrever e que poderia melhorar muito se aprendesse pelo menos algumas regras básicas de estrutura. Recomendo-lhe este mini-curso, que é barato, curto e simples. Sugiro-lhe também que leia o "Writing Novels for Dummies" que, apesar de básico, é muito bom para quem sabe pouco\nada sobre o tema.


PERSONAGENS:
A protagonista, Carla, sofre do que gosto de chamar "Síndroma de Bella Swan" - e que outras pessoas chamam o "Síndroma de Cinderela". Não, não tem nada a ver com ser uma mosquinha morta enjoadinha, ou apaixonar-se por um ser sobrenatural. A Carla é uma protagonista pelo menos simpática, e tem boas qualidades (como preocupar-se com os amigos, gostar muito da família, etc.) sem ser perfeita. Não. O síndroma vem do facto que a protagonista NÃO FAZ NADA. A Carla nada mais é que uma vítima das suas circunstâncias - está no sítio certo, à hora certa - e as coisas acontecem-lhe: um anjo apaixona-se por ela, está na mesma turma que um demonólatra que se torna o vilão, devido à relação com dito anjo, os inimigos dele atacam-na...
Nada do que ela faz é consequente. Ela é passiva, e deixa que as coisas lhe aconteçam -- não faz nada. Se retirassem a Carla da história, esta ainda podia acontecer -- o conflito entre Kal-El e a demónio em nada necessita da existência da protagonista -- quando um verdadeiro protagonista faz a história avançar através das suas acções. A única coisa que ela faz de sua vontade é procurar a amiga -- mas que acaba por ser inconsequente para a história e não a influenciar em nada. Quando um livro tem uma protagonista descartável, é sinal que algo está muito mal.

Os herói\love interest não me interessou: típico bonitão misterioso e fascinante que sabemos que é um bonitão misterioso e fascinante porque a protagonista não pára de nos dizer isso, e não por algo que ele faça ou diga. Claro que ele também é rico e sofisticado. Claro. Confesso que perdi todo o respeito por ele quando soube que a razão da sua queda foi porque queria... sexo. Lúcifer revolta-se contra Deus porque Ele protege os egoístas dos humanos, lidera uma revolução que divide os céus em dois, levando a uma guerra civil. Caael revolta-se porque queria dar umas berlaitadas. Sim, porque o nosso protagonista não podia ter defeitos ou ter feito coisas horríveis no passado das quais se arrependeu. Logo, para mim ele é apenas um ideal, uma noção de homem (sobrenatural) perfeito, a manifestação das fantasias e desejos da autora, e não um personagem real, logo, tem a personalidade e profundidade de uma esponja.

As personagens secundárias são ou desculpas para o plot, ou inserções de amigas reais (veja-se a personagem da Ana). Por um lado, torna a personagem realista (suspeito que a pessoa real, que também se chama Ana, foi consultada para saber o que ela diria na situação) -- mas isto não faz a personagem interessante ou necessária para a história, a não ser como instrumento do plot. Espero levar porrada por isto, porque a tal Ana que inspirou a personagem do livro mandou uma série de mensagens a disparatar à Ruiba quando a Ruiba publicou uma review negativa do livro -- e ela elogiou a personagem da Ana. Imagino eu que lhe chamei desinteressante como personagem.

Os vilões tem menos personalidade ainda que o love interest, e mais bidimensionais/chatos/insubstanciais que um crepe. Infelizmente, a autora deve achar que o trope das "High School Rich Bitches" era um bom de inserir, e não só me fez rebolar os olhos, mas saber que isto me lembra mais de uma fanfiction que um livro. Pior que isso - alunas do 12º que se chamassem a elas próprias "Powerpuff Girls" em público, teriam sido gozadas à brava. Como podia ser um problema dos meus tempos do secundário fui falar com alunas do 12º sobre o assunto para ter a certeza -- a resposta foi a mesma: por muito que The Powerpuff Girls seja uma série fixe, ninguém se auto-designaria assim, e se o fizessem iam ser gozadas por toda a gente, boazonas ou não. Isso é coisa de miúdas da primária. Podia ser também um caso de diferença de cultura, e o pessoal de Braga ser diferente. Falei com duas pessoas de Braga sobre isso (uma delas, a DreamGazer) que me disseram o mesmo -- essas miúdas teriam sido gozadas até à morte.
Depois, a vilã, Odete. Tenho que me perguntar se a autora tem algo contra uma Odete, porque a nomenclatura é, no mínimo estranha: por um lado, temos o Caael, com o seu nome que segue a regra da terminar em -el (como a maioria dos Anjos, que tem a ver com ser "de Deus") o anjo. Por outro, temos Odete, o demónio. E a Cecília, a súcubo. E a Antónia, a filha de Satanás. E a Maria José, a Nefilim... (okay, pronto, inventei as últimas três). Esta vilã também não se aproveita muito, visto que não é uma inimiga da heroína, é sim do love-interest (que não a deixa comer os humanos todos que ela quer), logo reforça a ideia que esta história não é sobre a protagonista, mas sim sobre o Kal-El e a Odete, e que a protagonista e o seu romance é só um side-plot. Afinal se se removesse a Carla e a relação dela com o Kal-El, a história que parece ser a principal (os misteriosos assassinatos\desaparecimentos) continuava sem problemas e com mudanças menores -- a Odete continuava a comer humanos e possuir (possuir à O Exorcista, não da outra forma, porra!) miúdos de secundário, o Kal-El continuava a querer impedi-la.
É o primeiro livro que leio em que a protagonista é quase completamente desnecessária para a história.

ESTILO E OUTRAS PICUINHICES:
Visto que tenho uma vida e esta review já vai longa, decidi não meter aqui uma listagem extensiva de todas as coisas menores que afligem este livro. Basta dizer que este foi o segundo livro em que me deu vontade de pegar numa caneta vermelha, corrigir a eito, e enviar à autora para ela fazer sair a edição 2.0 do livro. O primeiro com que me aconteceu isto foi o livro 1 da saga Nocturnus.
Para começar, a autora sofre do sério problema que muitos autores tugas sofrem, que é confundir inteligência e erudição com Abuso de Tesauro: lá porque um livro tem palavras complicadas não quer dizer que seja interessante ou profundo. Só quer dizer que o autor tem um dicionário de sinónimos em casa.

Isto liga-se directamente ao problema de voz de todo o livro. A narração é feita na primeira pessoa, por uma protagonista que tem 17 anos e é uma adolescente normal...

... que fala como se tivesse engolido um dicionário. 

Ao ler o livro, não temos a ilusão que estamos a ler a história contada por uma adolescente -- parece, isso sim, que a história é contada por uma adulta que gosta de mostrar que sabe palavras caras, a tentar fingir que é uma adolescente. O diálogo soa a falso e só a Ana consegue (moderadamente) escapar-se. Ainda me dá vontade de lhe dar um murro quando abre a boca mas isso só sou eu....

A autora é licenciada em Letras, o que talvez explique o seu amor por palavras caras (eu também sou, todavia, e não me vêem a abusar o Tesauro desta forma). O que não explica é como que alguém que tem este curso não sabe usar pontuação, sobretudo virgulas. Em cada página encontrava pelo menos um erro de pontuação, o que fala muito mal de alguém com um curso superior.

Depois temos o momento em que me fez dar com a cabeça na parede: quando a autora classifica Jane Austen como uma escritora da época victoriana. Quando Jane Austen morreu mais de um ano ANTES da Rainha Victória sequer nascer. Eu sei que isto parece picuinhice, mas quem é do curso de Letras devia ter pelo menos noção de que Austen precede a rainha, e que se queria um autor da época victoriana para dar exemplo tinha o Dickens ou as Brontë. Mas o facto é que é a obrigação de um autor de fazer pesquisa, e não fornecer dados falsos -- ainda que a desculpa possa ser que a protagonista era ignorante. Unreliable Narrator não desculpa ignorância do autor - sobretudo quando a informação podia ser verificada com uma rápida visita à Wikipedia.

Todavia, como disse, isto são mais picuinhices que outra coisa qualquer, visto que o livro tem problemas muito mais sérios, começando pela história e plot-holes épicos. Não significa que não devam ser referidos, no entanto.

Por fim, suponho que devo mencionar o world-build e setting. É pouco original, nada interessante, e por vezes estranho (misturando mythos católicos com egípcios - a cena dos gatos como protectores contra o mal faz-me suspeitar que a autora é fã dos filmes The Mummy, como eu...) mas visto que foi pouco desenvolvido, não vou analisar em profundidade (porque não posso, na verdade). Anjos existem, demónios também, vampiros são os filhos de demónios e humanos e também andam aí. Deus existe e é um cabrão que expulsa um dos seus servos porque este ousa querer brincar ao Esconde O Pepino. Não há muito mais a dizer sobre o world build.



Em suma: um livro de um género que gosto, com um design excelente, mas mal escrito em termos de plot e estrutura, com personagens aceitáveis mas bi-dimensionais e uma protagonista desnecessária, world build quase inexistente, e mais plot holes que uma peneira. Não posso recomendá-lo a ninguém porque não tem nada que se destaque sobre um monte de outros livros com este tema. Se querem ler algo neste género, vão ler o Twilight que está melhor escrito - não imaginaria que algum dia ia dizer estas palavras sem ser a gozar. 

Agora vou meter-me no meu bunker porque aposto que vem aí tormenta da séria."

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